Publicado às 11h30 desta terça-feira, 3 de dezembro de 2019. |
Nesta quarta-feira (4), às 14h30, o zagueiro Edu Dracena de 38 anos, multi-campeão por onde passou - Fenerbahce-TUR, Olympiacos-GRE, Cruzeiro, SCCP, Palmeiras e capitão na última conquista do Santos em uma Libertadores da América, em 2011, vai anunciar sua aposentadoria. O defensor revelado pelo Guarani e que chegou a ser capitão do time de Campinas com apenas 16 anos, conquistou absurdos 17 títulos na carreira, sendo seis pelo alvinegro mais famoso do mundo.
O jogador concederá entrevista coletiva na Academia de Futebol do Palmeiras, para falar sobre o futuro fora dos gramados. Edu Dracena tem contrato com o time da capital até o fim deste ano. Ele participou de 17 partidas do alviverde nesta temporada.
Mantive um breve contato com jogador na noite desta terça-feira (3). Edu Dracena é um dos sujeitos mais corretos que conheci em 22 anos na cobertura de futebol em minha carreira. Líder, honesto, raçudo e bom caráter, o maior zagueiro central que vi 'in loco' com a camisa do meu Santos querido, falou entre outras coisas que seguirá no mundo da bola:
"À partir da noite do dia 8, serei um ex-atleta de futebol, mas eu vou seguir no 'meio', então, você me verá bastante pelos estádios".
Sempre fui fã do defensor de pernas longas desde a época do Bugre campineiro no fim dos anos 90. Um dos pilares do Cruzeiro na conquista da tríplice coroa do clube mineiro, em 2003, chegou em Vila Belmiro, em 2009, cercado de desconfiança, não pela parte técnica e sim no aspecto físico, pois vinha de uma grave lesão no joelho direito. Foi indicado por Luxemburgo com quem conquistou tudo em Belo Horizonte, seis anos anos antes.
Mas não demorou muito para desconfiança virar alegria porque Eduardo Luiz Abonízio de Souza, que faz questão de carregar o nome de sua cidade natal - Dracena, interior de São Paulo, jogou demais com a camisa branca, o manto imaculado do Peixe. Três títulos paulistas (2010/11 e 12), Copa do Brasil (2010), Libertadores (2011) e Recopa Sul-Americana (2012) e de quebra o segundo zagueiro artilheiro da história do clube, atrás apenas de Alex, campeão brasileiro de 2002 que marcou 20, enquanto Edu fez 17.
Foram 229 jogos pelo alvinegro em cinco anos. Como não lembrar e não se emocionar com os gols que o camisa 2 santista marcou contra o Atlético Mineiro, na derrota por 3 a 2 no Mineirão, no jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil de 2010, quando o time da casa vencia por dois gols de diferença e a tarefa seria muito mais difícil na volta, em Vila Belmiro. E o gol do título, na Bahia, diante do Vitória, em uma conquista inédita na história do clube? No ano seguinte, o único gol, na primeira partida da semifinal da Libertadores diante do Cerro Porteño, no Pacaembu.
Ao lado de Durval, Edu Dracena formou uma das duplas de zaga mais vitoriosas da história do clube. E olha que aquele Santos, só jogavam pra frente e estourava tudo na defesa e no goleiro.
Um repórter, jornalista, radialista, não tem muitos jogadores profissionais como amigos. É conflitante. Como criticar uma pessoa próxima? E se eu disser que era um amigo de Edu, não estarei retratando a verdade. Eu não frequentava a sua casa e ele, muito menos a minha. Mas como ele mesmo fez questão de dizer, nessa conversa que tivemos nesta noite por telefone, 'passou longe apenas o lado profissional entre nós dois. O respeito e o carinho mútuo, sempre se fez presente na nossa relação' inclusive entre nossos familiares.
Mesmo depois que saiu do Peixe, quem acompanha as minhas redes sociais, cansou de ver fotos minhas com o jogador, nas concentrações dos clubes que ele jogou depois que deixou a Vila famosa - SCCP e Palmeiras e são com poucos ex-atletas e dirigentes, que eu tenho essa consideração.
Edu Dracena saiu pela porta da frente do alvinegro. Não queria deixar o clube. Sonhava em depois de pendurar as chuteiras, permanecer na cidade que se apaixonou e quem não se apaixona pela baixada mais famosa do mundo, vide Sampaoli, mas a gestão do presidente Modesto Roma, recém empossada em 2015, não quis a permanência do zagueiro, em Urbano Caldeira.
Ao contrário de outros jogadores, o atleta que poderia entrar na justiça por falta de recebimento de salários, prêmios e FGTS atrasado, não o fez. Ou melhor, fez sim, parcelou a dívida em longas prestações, reconhecendo que o clube passava um período difícil. E atrasaram novamente.
Edu Dracena oa lado de Neymar com a tarja de capitão levanta a Libertadores da América em 2011. |
Poucos sabem, mas cansei de ver Edu Dracena, no período que o Peixe atrasou os salários, em 2014, comprar cestas básicas para funcionários do CT. Mais que isso, doava seus equipamentos esportivos que podiam ser revertidos em dinheiro para pagar uma conta de água, luz, telefone. Fazia caixinha com outros jogadores para doar as cozinheiras, seguranças e etc. Sabe qual era a única exigência? Não queria que a imprensa e a direção do clube soubessem, pois queria o anonimato.
Em uma entrevista que me concedeu, após se transferir para o SCCP, onde também foi campeão, me disse que a saída do Santos, 'foi a decisão mais difícil que tomou por toda a identidade que tinha com o clube e a cidade'.
Me considero um privilegiado, pois tive a felicidade de acompanhar toda a carreira deste grande jogador com passagens inclusive pela Seleção Brasileira na base e profissional.
Nunca tripudiou um adversário, por isso é respeitado pelas torcidas rivais de um mesmo Estado - Santos, Corinthians e Palmeiras e campeão nos três clubes.
Nunca tripudiou um adversário, por isso é respeitado pelas torcidas rivais de um mesmo Estado - Santos, Corinthians e Palmeiras e campeão nos três clubes.
Além dos lances de jogo, os gols supracitados, na minha mente sempre ficará a imagem do capitão do tri das Américas, levantando a Taça, no Pacaembu, em 2011, em uma noite inesquecível na mente de todos os santistas.
Por fim, se tivesse que resumir em uma palavra o que Dracena construiu em 22 anos de carreira como jogador profissional, eu diria - Um vencedor.
Obrigado por tudo 'capitão' e você está na história do clube que eu amo, o Santos e em pelo menos em mais umas quatro instituições esportivas, por onde passou e também deixou sua marca.