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Publicado às 11h46 desta segunda-feira , 28 de março de 2016. |
O ex-presidente, Odílio Rodrigues Filho, saiu de cena desde seus últimos dias no mandato que herdou com a saída de Luis Alvaro Ribeiro, em 2013. O mandatário que deixou o clube no fim de 2014, pediu licença inclusive de conselheiro, por seis meses.
Em janeiro deste ano, o Conselho Deliberativo votou a favor para que o clube entre com uma ação judicial contra o ex-presidente e seu Comitê de Gestão pelo crime de gestão temerária. Odílio resolveu falar e se defende das acusações.
Na última semana, o Blog do ADEMIR QUINTINO recebeu ligação telefônica do ex-dirigente, que ainda é avalista de empréstimos de mais de R$ 15 milhões e o mesmo concedeu uma longa entrevista exclusiva.
ADEMIR QUINTINO: Por que o Senhor se calou das diversas denuncias feitas contra a sua administração?
Odílio Rodrigues:"Quando percebi que eu e meus parceiros de Comitê de Gestão estávamos sendo submetido a um julgamento politico, em função de entrevistas e colocações feitas por alguns conselheiros e pessoas ligadas a o clube, que mostravam comportamento de retaliação, vingança e ódio, entendi que não existiria clima para qualquer resposta ou defesa. Através de matérias escritas, faladas e vários meios de comunicação social fomos submetidos a um verdadeiro linchamento moral. Qualquer manifestação minha ou nossa seria rejeitada e esvaziada por pessoas que não eram apenas adversários políticos no clube, mas tornaram-se e se comportaram como verdadeiros inimigos e algozes. Neste clima não prevalece a razão e as palavras não fazem eco e não ressoam. Nestes momentos o homem é dono do que cala e escravo do que fala e indignado tomei a decisão de me calar".
AQ: É a primeira vez que dá entrevista desde que deixou o clube?
OR: "Há alguns dias atendi inadvertidamente ao telefone e era um colega seu de profissão, jornalista que me fez três perguntas e eu respondi a ele que não queria dar entrevistas, pois já havia recusado em outras oportunidades. No dia seguinte ele me ligou novamente e mantive a mesma postura, respondi que tinha sim comparecido a audiência que trata o caso Neymar e que não queria dar entrevistas. Para minha surpresa vi publicado por ele uma entrevista com temas e perguntas que não foram tratados nestes dois telefonemas".
AQ: Por que não deu entrevista antes?
OR: "Tudo que foi divulgado por algumas pessoas do clube e do conselho causaram uma indignação muito grande em mim particularmente,e nos meus parceiros de Comitê de Gestão. Todos nós sofremos muito passando por um verdadeiro constrangimento social com algumas acusações maldosas e levianas por parte de alguns. O silencio refletia a revolta e o inconformismo em ver pessoas que amam o Santos, sócios e conselheiros, que disponibilizaram seu tempo ao clube voluntariamente, enfrentando as enormes dificuldades de gestão vividas pelo clube de futebol, serem massacrados, ofendidos em suas imagens e honras e acusados de atos próprios de bandidos e desonestos e tratados como se bandidos fossem. Todos que participaram do meu Comitê de Gestão são pessoas responsáveis, conhecidas, santistas autênticos que são encontrados nos jogos do clube e que se colocaram a serviço do Santos".
AQ: Quais foram os maiores problemas que o senhor encontrou, principalmente em seu último ano de gestão?
OR: "Vivemos na gestão o terrível ano de 2014, para todos os clubes, lidando com dificuldades do dia a dia, com cobranças e com acentuada redução de entrada de recursos, já que todos os investimentos no futebol foram deslocados dos clubes para a seleção e para o Mundial. Neste difícil ano contei sempre com a presença e colaboração de pessoas que não se recusaram a colaborar com o clube mesmo diante das dificuldades, como o vice presidente Luiz Claudio, do Zé Paulo, Berenguer, Julio Peralta, Daoun, Cembranelli, Ronald e Thiers. Estas pessoas prestaram serviço ao clube, estiveram presente nas dificuldades e nos desafios da gestão. Opinaram, ajudaram a enfrentar tantas e tantas dificuldades. Estes santistas não merecem o tratamento que vem recebendo. Aliás, se olharmos a história do Santos, chama a atenção ver a forma como ex-presidentes e ex dirigentes saíram do clube. Para os santistas e conselheiros mais novos sugiro que busquem as publicações dos jornais e analisem matérias publicadas no fim das diversas gestões do clube. Tenho o privilégio de conhecer e respeitar a maioria dos ex-presidentes do Conselho Deliberativo e da Executiva, bem como muitos ex dirigentes. É relevante conhecer o que pensam e notório o profundo desencanto que tiveram com o futebol no exercício de suas funções. Vários deles hoje pouco frequentam jogos e reuniões do clube".
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O ex-presidente em evento na Federação Paulista ao lados dos presidentes do São Paulo e Palmeiras, entre outros. |
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AQ: O Senhor se arrepende de ter contratado Leandro Damião? Os valores praticados não foram fora da realidade?
OR: "Só quem participou ou participa de gestão e tem que tomar decisões diariamente se expõe ao risco de ver as decisões darem bons resultados e outras não. Assim é em qualquer modelo de gestão. Toda contratação, toda compra, toda venda de atletas vem acompanhada de possibilidades de sucesso e insucesso. A contratação do Damião na época teve a indicação dos responsáveis pelo futebol e foi muito festejada pela imprensa e por todos. Jogadores consagrados tem seus valores altos, como era Damião, Pato e outros".
AQ: Quanto a resposta anterior eu só posso falar pelo meu trabalho. Não comemorei a contratação do centroavante. Nem é o meu papel e muito menos o acho um jogador consagrado, longe disso. Passamos para a próxima questão. O Senhor ainda é avalista do Santos em algum empréstimo bancário? Quais?
OR: "Indignado, li e ouvi varias vezes que tínhamos vendido atletas para pagar os avais que demos ao clube. Nunca se utilizou recursos de negociação de atletas para salvar aval de quem quer que fosse. Saí do Santos com avais assinados em empréstimos bancários, bem como o vice presidente Luiz Claudio. Todo clube quando recorre a empréstimo bancário, o banco sempre exige aval pessoal de dois dirigentes, em geral o presidente e o vice. Quando a nova administração assumiu o clube em 2015, a pedido deles, renovamos nossos avais bancários até o final de 2017. Os avais se referem a empréstimos que foram sendo contraídos durante a gestão e a medida que eram necessários eram renovados. Nas ultimas renovações dos avais com os bancos o nome do Luiz Alvaro foi substituído pelo meu, uma vez que ele renunciou ao cargo de presidente, recaindo sobre nós, Luiz Claudio e eu, as assinaturas. Os valores de avais assinados são muito elevados".
AQ: O que o Sr. disse semana passada sobre o caso Neymar em audiência?
OR: "A DIS entrou com uma ação na Espanha contra o Neymar, seus pais e as suas empresas. Entrou também contra os dirigentes do Barcelona e do Santos ( presidentes e vice presidentes na época da transferencia do Neymar). Nesta ação a DIS alega que tem direitos a percentuais dos recursos que o atleta Neymar recebeu do Barcelona e também recursos que o Santos recebeu do clube espanhol. Estive na audiência para defender a legitimidade dos contratos celebrados pelo Santos com o Barcelona, naquilo que concerne aos recursos recebidos pelo Santos, e dizer que o que a DIS tinha direito a receber do Santos, já recebeu".
AQ: Por quê contra o estatuto do clube, o Senhor vendeu fatias de jogadores no período eleitoral?
OR: A afirmação da pergunta não é verdadeira. O Santos não vendeu atletas no período eleitoral, tanto é assim que todos continuaram no clube.
AQ: Não foi uma afirmação e sim uma pergunta. E não sou apenas eu que pergunto. A atual gestão busca recuperar esses percentuais econômicos fatiados através da justiça.
OR: "O artigo do Estatuto é claro e diz que você não pode vender Direitos Federativos de atletas (transferir atletas para outros clubes) nos últimos três meses finais do mandato. O Santos por extrema necessidade de recursos, vendeu percentuais de Direitos Econômicos e não os atletas. Aqui tem que se interpretar o espirito do legislador: a intenção ao colocar este artigo no Estatuto, visa impedir que uma diretoria que esteja no fim do mandato venda os atletas para outros clubes, deixando para a nova administração dificuldades para ter um time competitivo para disputar campeonatos que se iniciam com novos dirigentes. O Santos manteve seus atletas e com poucas contratações foi campeão paulista em 2015. Toda e qualquer empresa frente a dificuldades financeiras vende ativos, uma vez que está é uma opção mais vantajosa que novos empréstimos bancários".
AQ: Mas é legal esse procedimento? O Conselho Fiscal foi avisado?
OR: "Fizemos tudo dentro da legalidade. Tivemos o parecer favorável do jurídico. O Conselho Fiscal foi avisado também."
AQ: O Senhor se arrepende de algo que fez no período em que foi presidente do clube e que faria diferente hoje?
OR: "Entrei no Santos como vice presidente em 2010. O Santos foi muito vitorioso nos anos de 2010, 2011 e 2012. Ganhamos tudo. Vieram os anos de 2013, 2014, onde o clube com a revelação de atletas da base e contratações pontuais busca formar um novo conjunto com possibilidades de ser campeão. Todos sabem e a história mostra que no futebol atual, no Brasil, nenhum clube consegue manter-se de maneira hegemônica, ganhando campeonatos por mais de dois ou três anos. Em nosso pais, os clubes mais vitoriosos alternam períodos de conquistas que duram em geral dois anos e raramente três, com períodos de reconstrução do time que podem levar dois, três ou mais anos para formarem um novo conjunto vitorioso e campeão. Diferentemente dos grandes clubes europeus, em nosso país quando formamos um time vencedor e campeão, o mercado se encarrega de levar esses atletas para centros mais ricos e o clube reinicia todo trabalho para formar novo plantel campeão. Portanto, após todas as conquistas, sabíamos que perderíamos as maiores estrelas do nosso vitorioso time e teríamos anos pela frente com poucas possibilidades de títulos, até formar um novo plantel campeão. O presidente Luiz Alvaro se afastou em agosto de 2013 e renunciou em maio de 2014. Juntamente com outros santistas dispostos a enfrentar as previstas dificuldades do clube, cumprimos o que faltava de um mandato que era dele, que nos traria muitos problemas, perda dos principais atletas, anos de Copa das Confederações e Copa do Mundo. Diante de todas e tantas dificuldades vividas por nós, sempre optamos por fazer aquilo que se mostrava melhor e possível para o clube, dentro do cenário da época".
AQ: O senhor não está morando mais na Baixada Santista? Está residindo em Itu. Se procede, por quê?
OR: "Eu não deixei a baixada santista. Moro em Santos e no mesmo endereço há mais de quinze anos. Aqui nasceram meus pais, meus irmãos, minha esposa, meus filhos e meus netos. Esses últimos formam a quarta geração de santistas em nossa família. Meus vínculos com a cidade são permanentes. Em Santos fiz minha vida profissional como medico e aprendi com meus pais deste cedo a amar os grandes símbolos da cidade, entre eles o Santos FC. Em dezembro de 2015, após 39 anos de carreira de medico do Estado, foi publicada minha portaria de aposentadoria. Trabalhei como médico pelo Secretaria de Saúde do Estado até dezembro do ano passado na DIR, na esquina da Epitáfio Pessoa com a Alexandre Martins. Portanto estou aposentado como medico desde janeiro de 2016 o que tem me permitido ir com mais frequência para o interior, em Itu como você citou, cidade que frequento há mais de 35 anos".
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Odilio Rodrigues dirigiu o Peixe do segundo semestre de 2013 a dezembro de 2014. |
AQ: Qual a sua avaliação após o Conselho Deliberativo ter dado o aval, em janeiro, que o
senhor seja processado por gestão temerária?
OR: "O presidente de um grande clube de futebol me disse uma vez o seguinte : Todos os nossos clubes tem muitos problemas financeiros, administrativos, dividas trabalhistas, empréstimos que se arrastam e se renovam, dividas fiscais, disputas de grupos políticos, etc. Se no futebol você não fizer sucessor, a oposição que assumir vai te responsabilizar por todos os problemas do clube. Sou conselheiro efetivo do Santos, participo do conselho deliberativo há mais de 20 anos, já tive a honra de ser vice presidente do conselho. Nunca em minha vida de conselheiro ocupei a Tribuna do conselho para difamar, atacar, ou condenar qualquer dirigente. Sempre entendi que os dirigentes do Santos são protagonistas de uma corrida de bastão, onde cada diretoria, dentro das dificuldades de sua época procura fazer o melhor pelo clube e o resultado desta centenária corrida alicerça a construção de uma história maravilhosa de um clube vitorioso, que saiu dos limites da nossa cidade para conquistar o mundo. O Santos é grande pela luta de todos os santistas. A maioria dos grandes clubes convivem com seus conselhos, como órgãos de representação política, onde, em geral, de maneira conflitiva se expressam as varias correntes políticas existentes nos clubes. No Santos isso também acontece. O atual estatuto permitiu que as várias correntes políticas tivessem representatividade no conselho, o que não ocorria anteriormente. Hoje o conselho do Santos é formado por conselheiros efetivos, e conselheiros eleitos. Na ultima eleição três chapas de oposição conseguiram os votos necessários para estarem representadas no Conselho Deliberativo. Portanto, na formação atual do conselho deliberativo a grande maioria, ou melhor, a quase totalidade dos conselheiros eleitos são opositores da antiga administração, o que evidencia que todo e qualquer julgamento da antiga administração tem e terá um grande e predominante componente politico.
AQ: Dentro de sua auto-crítica, o que ficou do seu mandato? Deixou algum legado?
OR: "Participei de uma administração que esteve a frente do clube de 2010 a 2014. Vivemos, como em todos os clubes de futebol brasileiro os dois ciclos, o vitorioso e o ciclo de renovação e substituição dos atletas que saem após as conquistas. Após a geração Pelé, 2010, 2011 e 2012 foi o período mais vitorioso na história do Santos. Ganhamos nestes 5 anos, só com o time principal, 6 títulos, entre os quais a Copa do Brasil, e a Libertadores da America. O Santos voltou a ter uma grande exposição, tornou-se a sensação no futebol brasileiro e seus feitos e craques muito comentado no Brasil e no exterior. Tivemos um aumento sem precedentes do numero de associados e torcedores. Em 2013 e em 2014 vivemos o ciclo de reconstrução de nossa equipe, ciclo este onde em geral não se comemoram campeonatos. Além das dificuldades desse ciclo de 2013 e 2014 natural no futebol, estes dois anos foram considerados para as receitas dos clubes, os piores anos do futebol brasileiro. No segundo semestre de 2013 e no ano de 2014, todos os investidores e todas as ações de marketing no mercado do futebol se voltaram respectivamente para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Os grandes clubes brasileiros em 2014 tiveram uma redução de suas receitas e a consequente aumento de suas dividas e no Santos não foi diferente. Convém lembrarmos também que em 2014, além do aspecto financeiro, como já dissemos, também foi um ano muito difícil para a administração do clube por ser um ano eleitoral e pela primeira vez na história do clube, em função da abertura democrática trazida pelo novo estatuto, cinco grupos políticos disputariam as eleições. Alguns grupos oposicionistas criaram uma serie de dificuldades para a administração gerando um clima muito tenso, com denuncias, ameaças, etc. Entre estes tristes episódios oportunistas lembramos as denuncias feitas por grupos políticos sobre os chamados sócios fantasma, criando um grave problema para o clube, e ao final de investigações, ficou esclarecido uma forte ligação entre os que denunciavam e as associações indevidas".
AQ: Qual a avaliação que faz do atual Conselho Deliberativo que deseja explicações?
OR: "Quero dizer que respeito a instituição Conselho Deliberativo afinal sou conselheiro efetivo e já fui vice do conselho. Porem, com a multiplicação de grupos políticos no clube e considerando que nas ultimas eleições três grupos de oposição elegeram seus conselheiros, hoje temos um conselho marcadamente oposicionistas, o que torna a defesa de nossa administração reduzida a conselheiros mais antigos, que nos conhecem e conhecem a nossa historia pessoal. Existem no conselho deliberativo pessoas responsáveis, reconhecidas e independentes, que pela sensatez e capacidade de reflexão, conseguem distinguir erros de gestão de atos de desonestidade. Por outro lado conheço a motivação de alguns conselheiros que nos atacam muito, divulgam noticias tendenciosas e cobram dos demais membros posicionamento punitivo em relação aos antigos administradores. Alguns foram processados por nós, outros faziam parte e defendiam a administração enquanto recebiam bons salários do clube, no entanto, quando diante de uma grave situação financeira que nos levou a produzir uma grande reforma no clube com acentuada redução dos custos administrativos e na atividade meio e consequente desligamento dos maiores salários, estes profissionais voltaram ao conselho e hoje são os nossos oposicionistas mais ativos. Isso se chama vingança e retaliação, colocando os interesses pessoais acima dos interesses do clube".